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TEXTOS PADRES CASADOS
TEXTOS PADRES CASADOS

Diário de Fernando: Nos cárceres da ditadura militar brasileira

Por Eduardo Hoornaert

Frei Fernando de Brito (ed. Frei Betto), Diário de Fernando, Nos cárceres da ditadura militar brasileira, Rocco, Rio de Janeiro, 2009. 287 pág. 21 e 14 cm. ISBN 978-85-325-2427-0.

Trinta anos atrás, ao prefaciar o livro ‘Cartas da Prisão’ de Frei Betto (Civilização Brasileira, Rio, 1977), Alceu Amoroso Lima, ‘do fundo de seus 83 anos’, comparou os dominicanos presos nos cárceres do sistema militar aos hebreus na fornalha ardente que ‘cantavam no meio das chamas’, segundo o livro do profeta Daniel. Imagem forte que evocava o entusiasmo de Alceu por verificar que algo raro estava acontecendo com esses jovens de pouco mais de vinte anos de idade (Tito, Fernando, Ivo e Betto, e talvez outros cujos nomes não ficaram gravados na memória coletiva), um sonho que ele mesmo sempre procurou realizar em grupo sem consegui-lo: conjugar religião e compromisso social. ‘Coisa rara na história do catolicismo brasileiro’, escreveu Alceu, e ‘de importância capital para o futuro tanto de nossa igreja como da nossa civilização’ (p. 10). E, na pagina seguinte: ‘a passagem, por quatro anos, desse grupo por sucessivos cárceres, um dia será História em ponto grande’ (p. 11). Mas adiante ele retoma o mesmo pensamento, mas com um toque de descrença: ‘É possível que as lições dessa mina de sabedoria (a experiência do cárcere) sejam bem aproveitadas pelas novas gerações’ (p. 15), pois elas testemunham uma ‘vida totalmente vivida’. Mas o contrário também pode acontecer: a experiência pode cair no esquecimento, como acontece tantas vezes na história da humanidade.

Pertence a nós guardar viva essa memória. Num livro já antigo, o escritor francês Maurice Halbwachs escreve que a memória é uma atividade criadora, ou seja, que a preservação da memória depende das pessoas que resolvem cultivá-la. Sem cultivo, a memória morre . Até hoje, frei Betto tem sido o principal ativador dessa memória, por meio de livros, artigos, filmes e documentários. Ele tem viva consciência da importância do que aconteceu entre 1969 e 1973, não só para a memória dos frades dominicanos nem exclusivamente para a memória do catolicismo no Brasil, mas para a sociedade como um todo. Mesmo antes de ser preso, refletiu sobre o tema da perseguição. Neste momento tenho à minha frente na mesa uma cópia de um trabalho semestral, elaborado por ele para um curso de história do cristianismo administrada por mim na faculdade de teologia Cristo Rei, em São Leopoldo, onde ele estudou um semestre. O plano era que ele viajasse depois à França, escapando da repressão aqui no Brasil, o que não se concretizou. O trabalho, datado em 4 de novembro de 1969 (a última página ainda estava na máquina de escrever quando Betto foi surpreendido pelos acontecimentos que conhecemos) é intitulado ‘Igreja e Perseguição’ e enfoca as origens do cristianismo do ponto de vista da perseguição, desde Jesus até a época de Diocleciano. Mais tarde, o tema foi retomado por Ivo Lesbaupin e editado pela Vozes em 1975 sob o título ‘As bem-aventuranças da perseguição’. Há muitos outros documentos relacionados com esses episódios e que hão de ficar na memória, e é dentro dessa tradição memorial que nos chega agora o diário de Fernando.

A diferença com as cartas de Betto é marcante. O diário de Fernando está impregnado de dor e fragilidade, expressa um sentimento de impotência diante do cataclismo que se abateu sobre sua vida, e isso lhe confere um tom particularmente humano. Ele escreve que ‘seu grito se perde sem eco no barulho exterior’ e que sente ‘a distância entre nossa indignação e a impotência dos gestos’ (p. 78). Impotente e fragilizado, ele dá a impressão de assemelhar-se à condição de um preso ‘comum’, perdido em meio a tantos outros injustiçados e esquecidos. Sente alucinações na cela solitária (pp. 119-121): o subconsciente aflora e ele confessa que quase perde o equilíbrio mental, sentindo-se abandonado e rejeitado no esgoto da ‘boa sociedade’:

menosprezado, rejeitado pelos homens Um homem atormentado, sofrendo Uma face velada para nós Menosprezada, negligenciada (Is 53, 3-4).

Na p. 129, ele fala em alucinações: ‘Ouvimos vozes sem saber donde vêm nem para onde vão. Já não somos os santos’. Seu refúgio é o cigarro (p. 138) e o ‘poder da imaginação poderosa’ (p. 137). Fernando é o anti-herói, ele experimenta a fragilidade do ser e escreve páginas de profunda humanidade. Sofre de insônia e, quando consegue dormir, é habitado por sonhos medonhos. Graças ao apoio dos colegas, conserva a auto-estima e consegue finalmente ser feliz no sofrimento. Percebe o distanciamento entre o projeto por ele abraçado e a realidade em que vive. O diário de Fernando mostra que fragilidade, sofrimento, auto-estima e felicidade podem existir juntas. As letrinhas miúdas desse diário não evocam o ‘conto de fadas’ evocado por Alceu em 1977, mas a dor e o sentimento de abandono. Revelam a fragilidade humana e o quase esmagamento psicológico diante da brutalidade e crueldade que se abate sobre o grupo de jovens dominicanos, em muitos aspectos despreparados para as questões complexas em que se vêem envolvidos e pegos de surpresa nas malhas de um sistema perverso. Como escrevi acima, Fernando mal representa a figura heróica do preso político e seu texto não tem nada de triunfal. A salvação de Fernando está no grupo. Na prisão, como em nenhum outro lugar, a união faz a força. O grupo dos dominicanos tem uma coesão que falta aos demais presos políticos. É dentro desse grupo que se celebra a missa, um recurso de união que se utiliza com muita eficácia, por se tratar de um rito que impõe respeito e congrega o grupo maior de encarcerados, inclusive de comunistas ateus confessos. Na p. 158, Fernando conta que os dominicanos rejeitam a missa de natal celebrada por Dom Lucas, já que não se permite a presença de todos os presos à missa. Essas atitudes são importantes para a sobrevivência psicológica do grupo de presos políticos e os dominicanos sabem disso, pois enfrentam um jejum de 33 dias (alguns dizem 36) na luta contra as sucessivas tentativas de se isolar os presos políticos e assim quebrar sua força moral. A falta desse apoio manifesta-se no triste caso de Tito Alencar, que – libertado após o seqüestro do embaixador suíço – tem de abandonar o grupo e enfrentar uma liberdade sem o consolo e o apoio psicológico dos que enfrentam corajosamente as mesmas dificuldades. O texto de Fernando evoca a tristeza do companheiro Tito na França, onde – por mais sinceros que tenham sido os gestos de delicadeza e amparo para com sua pessoa – ele não encontrou mais um grupo com o qual se identificar. A união constitui uma das estratégias básicas do grupo de dominicanos, mas existem diversas outras. O diário todo pode ser lido dentro da perspectiva de procura de estratégias possíveis ao longo dos três anos de prisão, dentre elas algumas particularmente bem sucedidas. Só alguns exemplos: agir sobre o subconsciente das autoridades repressivas; ativar a famosa ‘repercussão internacional’; trabalhar em cima do caráter internacional da igreja católica e de seu prestígio na sociedade; utilizar a mídia; indicar Dom Paulo Evaristo como intermediário incondicional; utilizar a força de ritos respeitados na sociedade, como a missa ou a recitação do Pai Nosso (a Internacional Comunista não tem a mesma repercussão); apelar para o sentimento do diretor do presídio (de Presidente Venceslau, por exemplo); atuar junto ao capelão da penitenciária; criar um ambiente humano no presídio.

Em termos de estratégias de ação, dá para se perceber uma evolução no pensamento dos dominicanos. Na página 34, Fernando relata o que se pode chamar de estratégia clássica da esquerda dos anos 1960. Marighella parte do pressuposto de que não existe nenhuma estratégia no bojo da sociedade brasileira tradicional e, pensando em preparar o terreno para a guerra do Araguaia, orienta os dominicanos a ‘preparar o povo através da pregação nas cidades da região e principalmente no interior do Pará’ (p. 34). A coisa não pode ser dita de forma mais clara. As pessoas que vivem na região não estão ‘preparadas’ e o ‘intelectual orgânico’ tem de vir de fora. Que contraste com as últimas 66 páginas do diário, que tratam do período entre 8/6/1972 e 4/10/1973, quando os dominicanos ficam num presídio com presos comuns em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Aí eles são obrigados, pela força das circunstâncias, a praticar o que Rubem Alves chama de ‘escutatória’. Os textos referentes a esses últimos seis meses da prisão dos dominicanos são os mais curtos, mais diretos e – em minha opinião – mais interessantes para nossa reflexão hoje. Querendo ou não, os três frades têm de escutar e vão descobrindo aos poucos o universo de presos comuns, suas reais capacidades de ação e suas possíveis estratégias de sobrevivência e dignificação. O diário termina mencionando algumas lindas experiências junto a presos comuns, na cotidianidade da prisão: a administração de aulas de curso primário e as dramatizações, como aquela mencionada na p. 261, em que Morcegão, o assassino, dramatiza três ‘posições sociais’: assassino, vítima do assassino, policial. Aqui estamos perto de Michel de Certeau e sua ‘Invenção do cotidiano’ , perto de Wittgenstein e de tantos outros intelectuais preocupados em descobrir e resgatar estratégias populares. Não se insiste mais em ‘organizar o povo’ (Marighella), mas em descobrir pacientemente a maneira como o povo se organiza e em captar as possibilidades concretas, os jogos bem sucedidos, as artimanhas que os presos ‘comuns’ usam e que podem servir de inspiração.

A experiência dos jovens dominicanos brasileiros dos anos 1969-1973 lembra a longínqua experiência de seus confrades, cinco séculos atrás. Os primeiros quatro frades dominicanos que aportam à Ilha Espanhola (hoje República Dominicana) em 1510, apenas 18 anos após a chegada de Cristóvão Colombo, ficam escandalizados com o comportamento de seus compatriotas para com a população local. Entre eles está Pedro de Córdoba, discípulo do famoso frei Juan Hurtado de Mendoza, reformador da ordem dominicana em Salamanca na Espanha, que impulsionou a reforma fundamental da ordem dominicana e deve ser considerado pioneiro de um movimento que está na origem dos primeiros esboços de direito internacional (ius gentium), tais quais se encontram na bula papal ‘Sublimis Deus’ de 1537 (os chamados ‘índios’ da América são seres humanos de pleno direito e, portanto, iguais aos europeus) e – de maneira bem mais elaborada – na teologia de Vitoria e na prática de Bartolomeu de Las Casas, ambos dominicanos. Quando Pedro de Córdoba e seu colega Antônio Montesinos chegam à ilha, eles se revoltam de tal forma que – no sermão dominical – acusam as autoridades coloniais da ilha de homicidas . A estátua de Montesinos, de boca aberta acusando as injustiças coloniais, ainda pode ser admirada em Santo Domingo. Há um elo histórico que liga os jovens dominicanos de 1969-1973 com seus jovens confrades de 1510. Podemos ir mais adiante e ponderar: como os dominicanos brasileiros do século XX são diferentes de seus colegas dos séculos da inquisição! De inquisidores e acusadores passam a inquiridos e acusados. Hoje, a ordem dominicana está empenhada em rever a pesada história de seu envolvimento na inquisição. Vale a pena mencionar aqui o rigoroso exame de consciência que a ordem está empreendendo acerca de seu passado inquisitorial. Tudo se iniciou com um simpósio internacional sobre a inquisição na cidade do Vaticano, nos dias 29 a 31 de outubro de 1998. Em seguida, o capítulo geral dos frades dominicanos, reunido em Bolonha do 13 de julho a 4 de agosto de 1998, recomendou que o instituto histórico da ordem ‘examinasse o papel representado por alguns de seus membros nas injustiças do passado para ajudar a purificar nossa memória’. Dentro desses propósitos se organizou em Roma o primeiro seminário internacional sobre ‘Dominicanos e Inquisição’, nos dias 23 a 25 de fevereiro de 2002, cujas atas foram publicadas pelo instituto histórico dominicano em 2004 e apresentadas por mim aos leitores da REB (2005, 995-998). Houve depois um segundo seminário sobre o mesmo tema em Sevilha (março 2004) e em 2008 se publicou o terceiro volume de ‘Praedicatores Inquisitores’, baseado no seminário realizado em Roma nos dias 15 a 18 de fevereiro de 2006. Alguns trabalhos desses seminários lembram o diário de Fernando, como a evocação do caso de uma freira dominicana de Lisboa, Maria da Visitação, presa em 1584 pela inquisição por ter tido revelações consideradas demoníacas pela igreja e que diante dos inquisidores (da mesma ordem dominicana!) teve a coragem de confirmar as visões e as imagens que lhe davam coragem de prosseguir criticando situações injustas .

O diário de Fernando evoca memórias ainda mais antigas. A memória cristã guarda o relato impressionante da prisão de uma matrona cristã, Perpétua de Cartago, no início do século III. O documento ‘Paixão de Perpétua e Felicidade’ é um dos escritos mais surpreendentes, não só da literatura cristã, mas da literatura antiga em geral. É a primeira vez, em toda a literatura da antigüidade, que uma mulher fala por si, sem mediação masculina. Condenada ad bestias e reclusa numa prisão militar enquanto se aguarda a data da execução, Perpétua sonha numa mistura de pesadelo e conforto. Como Fernando. Apesar de ser condenada à morte e considerada vencida por seus perseguidores, ela ingressa na morte com a palma da vitória na mão. Ela sonha com uma escada de ouro, comprida e estreita, rodeada de armas perigosas e com um dragão ao pé da escada. Perpétua pisa no dragão e assim chega em cima. Aí contempla um prado com um pastor que ordenha ovelhas e lhe oferece coalhada de leite. Num outro sonho, ela vê uma figura maior que a altura do anfiteatro onde será executada. É um mestre dos gladiadores que lhe entrega um ramo verde com frutas douradas, prenunciando sua vitória. Perpétua flutua no anfiteatro e esmaga a cabeça do algoz, passa pela porta da vida e alcança a árvore da vida, o jardim, o paraíso esperado. No auge da luta, aludindo à força que ela sente dentro de si, ela grita: ‘facta sum masculus’, eu me tornei um homem. Pouco antes, ela tinha dito ao pai: christiana sum, sou cristã. Eis um relato que me rece ser cultivado pela memória cristã .

O diário de Fernando está destinado a ocupar seu devido lugar dentro da variada literatura produzida em situações de repressão. O cuidado do autor em anotar tudo evoca as notas furtivas de Soljenitsin (autor do livro ‘O arquipélago Gulag’, de 1973), que é – como ele – um obcecado registrador de palavras ao manejar lápis ou caneta quando em marcha com os demais encarcerados, na hora do lanche e nos intervalos da corte de lenha no mato, anotando tudo em pequenos cadernos e resmas de papel, sem margens e com um mínimo de espaço entre uma linha e outra, exatamente como faz Fernando. O diário faz igualmente pensar nas ‘Recordações da Casa dos Mortos’ (1862), nas quais Dostojevski descreve as prisões na Sibéria, onde ele passou quatro anos. Contudo, a mais impressionante obra produzida em cárcere é o romance Dom Quixote (1575), redigido por Miguel de Cervantes durante seus cinco anos em cativeiro. Dom Quixote é o preso sonhador. Ele nos lembra que somos maiores do que somos, que podemos transcender a figura humana da mesquinhez e partir com ele à procura da justiça perdida e da misericórdia que não se encontra em lugar nenhum, não fazer o que se espera de nós e fazer o que de nós não se espera, olhar para as estrelas e abraçar o mundo inteiro num sonho de fraternidade universal.

Eduardo Hoornaert e.hoornaert@yahoo.com.br

 

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ENCONTRO MFPC - MUDANÇA DE PERFIL E PARADIGMA

                             O lema de Fortaleza significa força, valor, coragem. Por isso não foi surpresa a organização do Encontro Nacional no SESC-Iparana/Caucaia, tendo como anfitriões as famílias dos padres casados cearenses que fazem jus ao nome de sua cidade e a sua história. Também, pudera, o Ceará será sempre lembrado pelos grandes ícones, entre outros, José de Alencar, D. Helder Câmara e o imponente Dragão do Mar, herói na libertação dos escravos. Cabeças pensantes que deixaram marcas e até hoje influenciam.

    O XIX encontro nacional com transmissão "on line" para o mundo foi uma novidade. Lá estavam 143 participantes, a maioria casais, viúvas, filhos, representantes da Argentina, Chile e México, alguns colegas acompanhados de suas esposas e também padres da ativa.

    A capacidade de organização e abnegação dos nossos colegas que vestiram o avental e toparam sediar o evento superou as nossas expectativas. Mas há razões muito fortes para que isto acontecesse.

    Na origem da formação do grupo de Fortaleza existia a liderança e o carisma de Lauro Mota e a presença em Fortaleza do cardeal D. Aloísio Lorsheider que, em seu tempo, deu abertura e receptividade aos padres casados. Na caminhada do movimento crescemos, amadurecemos e vivenciamos situações diferenciadas.

    Fortaleza em dois momentos distintos foi palco de dois encontros nacionais. Em 1983 o Encontro do saudosismo e em 2012 o encontro do amadurecimento. Participei de ambos. Do V ao XIX houve uma virada muito grande. A  hospitalidade e a competência foram iguais, o que mudou foi o perfil dos participantes e os conteúdos abordados.

    Podemos afirmar que crescemos e amadurecemos. Lembro-me que na abertura do evento em 83 foi prestada uma homenagem ao padre casado mais novo e ao mais velho que participavam do evento. Fui convidado para compor a mesa por ser o mais novo com 41 anos e o Públio Calado, de Recife, com 70 anos, o mais velho. Vinte e nove anos depois estou com a idade de Públio naquela época, e ele, se vivo fosse, estaria com 99 anos.

    A média da idade do grupo era mais ou menos 55 anos, a grande maioria com filhos recém-nascidos, dando os primeiros passos numa vida secularizada, a preocupação com abolição do celibato obrigatório, como se predominasse um desejo inconsciente de retorno à igreja institucionalizada, uma espécie de saudade das cebolas do Egito.

    Hoje quase todos aposentados e avós, realizados profissionalmente, encontraram a sua identidade e estão conscientes do que nos disse Comblin em Recife: "O sacerdócio de vocês une-se ontologicamente a Cristo e não depende de nenhuma estrutura de igreja para funcionar. Façam... vocês estão

mais livres para fazer acontecer, cada um dentro das suas particularidades

e com seus talentos".

    Dentro desta ótica o XIX Encontro Nacional do MFPC foi uma continuidade e aprofundamento do que aconteceu em Recife. As palestras de Maria Soave, Manfredo Oliveira e Carlo Tursi, abordando os aspectos bíblico, teológico e existencial, mexeram bastante com os participantes, mostraram que outro cristianismo é possível e atingiram o âmago do espírito do Concilio Vaticano II na concepção do grande papa João XXIII: "É preciso sacudir a poeira imperial dos séculos". Ninguém melhor do que ele, profundo conhecedor da história da igreja, poderia ter consciência dos penduricalhos que deformaram a Igreja católica a partir do séc. IV. Com ele surgiu uma aurora na igreja, mas infelizmente com a sua morte estamos vivenciando um longo e tenebroso inverno.

    Concluo desejando que o próximo encontro de Curitiba em janeiro de 2015 siga a mesma linha e resgatando o pensamento do nosso saudoso Lauro Mota:

"Os padres casados são sinal de uma nova igreja".

 

Almir Simões - Salvador - MFPC - BAHIA

almirsim@ig.com.br

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 Um sonho de Bernard Häring DOIS MIL E UM, ODISSEIA NA IGREJA

O sucessor de Wojtyla anuncia as novidades do terceiro milênio

Os cardeais da Santa Igreja Romana reunidos em conclave elegeram o novo Papa que, continuando o espírito do Papa do Concílio, decidiu chamar-se João XXIV.

0 seu primeiro ato como Papa foi escrever uma carta a todos os homens para lhes comunicar as inovações que tenciona introduzir imediatamente na Igreja:

1.     abolir os títulos eclesiásticos,

2.     cancelar as púrpuras cardinalícias

3.     eliminar o corpo diplomático da Santa Sé

4.     proibir chamar o papa de "Santidade" os cardeais de "Eminência” e os bispos de "Excelência"

5.     dar às mulheres os mesmos direitos que os homens, inclusive o acesso ao sacerdócio

6.     e fazer com que 0 Papa seja também discípulo do único mestre,  Cristo.

     Quem sonha assim, de olhos abertos, é o teólogo alemão padre Bernardo Häring, oitenta anos, grande protagonista do Concílio, amigo pessoal de Paulo VI, processado pelo Santo Oficio pós-conciliar de João Paulo II. Atingido por um tumor na garganta,  não deixou de escrever e de viajar pelo mundo, dando conferências e palestras nas mais prestigiadas cátedras leigas e religiosas.

A sua última aparição pública na Itália aconteceu em Roma, no passado mês de janeiro, no âmbito dos seminários sobre Ética, organizados pela Associação para a Pesquisa e a Comunicação.

Nas suas conferências romanas, Häring indicou à sua imensa platéia o itinerário para a passagem da Ética da obediência à Ética da responsabilidade. Como conclusão das suas lições, quis confiar ao público que o tinha ouvido o seu sonho: o sonho de poder ler, antes da sua morte, uma carta escrita pelo sucessor do Papa Woityla,  que se expressasse mais ou menos assim:

"Carta Pastoral de João XXIV, no principia do terceiro milênio"

 

 Caríssimas irmãs, caríssimos irmãos em Cristo!

Hoje a Cristandade, na sua viagem de povo peregrina, entra no terceiro milênio. A Igreja tem diante de si, muitos problemas candentes. Mas a nossa esperança é o Senhor da história com as suas promessas e a sua graça. Nós nos confiamos ao Seu Espírito com humildade e com grande confiança.

Prometemos solenemente, com as mesmas palavras de João Paulo I, "não trair a ardente e íntima oração de Jesus ao Pai, o seu testamento, na noite da última ceia, o seu mandamento mais importante: "faz com que todos sejam uma só coisa: como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, também eles estejam em nós . Assim o mundo acreditará que Tu me enviaste" (João 17,21)"

Com o Concílio convocado pelo Papa  XXIII, surgiu uma nova aurora. Entramos na era do ecumenismo. 0 seu sucessor, Paulo VI, continuou sua obra com sabedoria e humildade. Diante do Conselho Mundial das Igrejas, ele teve a coragem de dizer que o Papado, na sua forma nascida de uma dramática história, podia ser um grave obstáculo à tão desejada unidade das Igrejas.

O seu amável sucessor, João Paulo I, com surpreendente clarividência, indicou, na colegialidade viva e operante entre Papa e Bispos, "a prova e o selo da catolicidade no caminho da unidade das Igrejas". Entrementes, muitos passos foram dados, mas muito ainda resta a fazer. É muito importante não deixar passar a hora da graça!

Um passo indispensável é, agora, uma reflexão humilde, solidária e corajosa sobre a história do Papado em relação à unidade das Igrejas.

Devemo-nos colocar todos diante do Senhor comum e refletir, à luz da Palavra de Deus e da antiquíssima tradição, sobre o ministério petrino desejado pelo próprio Cristo.

O segundo milênio trouxe-nos as separações entre as Igrejas. As causas e as responsabilidades foram diversas, não tendo, com certeza, sido a última, nem a menos importante, uma concepção demasiadamente mundana do poder e do ministério na Igreja. Uma grande nuvem coletiva obscureceu os corações e a inteligência de muitos.

Lembrando todas essas coisas, não podemos não chorar todos juntos. Mas devemos também lembrar o bem e os passos dados na direção certa e admitir que nem sequer a sapiência dos Papas, dos Bispos e dos outros Dirigentes de Igrejas foram capazes de modificar as estruturas que impediam a reconciliação completa. E, por longo tempo, as Igrejas separadas não se reconheciam sequer como Igrejas irmãs, e viviam fechadas cada uma em sua torre de defesa.

Deus, grande e misericordioso, seja bendito pelo sopro de Seu Espírito que fez renascer um grande desejo em todas as partes da Cristandade. Todos os passos dados até agora são dom gratuito da Sua misericórdia.

A conversão ecumênica reforçou e promoveu um espírito de diálogo, de respeito, e de busca conjunta da verdade. Apesar do pleno conhecimento das dificuldades ainda existentes, proponho hoje alguns pontos para a vida da Igreja Católica, tendo em vista a tão desejada unidade dos cristãos:

1 - Já que o trono, a tiara e os títulos pomposos eram sintomas de patologias profundas e causa de irritação entre Igrejas irmãs, proíbo energicamente que se chame o Papa com títulos como "Sua Santidade" . E nem sequer o título de Santo Padre me agrada, pois Jesus, na Sua Grande oração pela Unidade, chama Seu Pai de “Pai Santo” (Jo, 17, 11) Esperamos que, no futuro, jamais alguém se permita chamá-lo "Santíssimo", ou "Beatíssimo".

2 – Não existirão mais os chamados "prelados de honra de Sua Santidade". Os cardeais da Igreja Romana não se vestirão de púrpura “com fazem os ricos”. No Vaticano não mais títulos como "Eminência” ou "Excelência”. Somos todos irmãos em torno de Cristo, humilde servo de Deus, que se fez homem para a nossa salvação.

3 - Os diversos diálogos interconfessionais das últimas décadas produziram resultados surpreendentes. Ouvindo juntos a palavra de Deus, conseguimos remover muitos obstáculos sendo, por isso, chegada a hora de pôr fim a todas as consequências possíveis e dar passos decisivos, rumo à unidade e à reconciliação, numa fecunda diversidade.

4- - Como sinal desse renovado fervor, o "Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos" será elevado ao nível dos mais importantes Dicastérios Romanos, melhor ainda, tornar-se-á Congregação, com a específica competência de criar e animar estruturas capazes de favorecer o processo e o acolhimento dos resultados provenientes dos diálogos interconfessionais, em estreita colaboração com as Conferências Episcopais e as Faculdades Teológicas de todo o mundo ..

5 - 0 Papa propõe-se a fazer todo o possível para tornar viva e operante a Colegialidade em todos os níveis. Para recuperar as estruturas sinodais do primeiro milênio, muito teremos a aprender das Igrejas irmãs que conservaram e desenvolveram com muita eficácia aquelas estruturas.

6 - Tendo em vista a função ecumênica do Bispo de Roma, todas as Conferências Episcopais e todos os Patriarcados participarão da eleição dele. As modalidades exatas serão determinadas pelo próximo Sínodo dos Bispos.

         7 - 0 mesmo Sínodo decidirá sobre a função e o futuro do “corpo diplomático”  Até mesmo o nome não é mais aceitável. As Igrejas não podem definir-se como instituição diplomática. Bem ao contrário, precisamos é de organismos completamente diferentes, que sirvam para a missão da Igreja na promoção da Paz e da Justiça.

Em relação a tudo aquilo que se refere à ligação e à comunicação contínua entre o Bispo de Roma e as Igrejas locais, serão encontrados modelos semelhantes aos do primeiro milênio.

8 - Uma ponderada interpretação teológica do primado do Papa, feita à luz da Palavra de Deus e dos documentos dos Concílios, demonstrou que o magistério e o governo do Papa só estão plenamente integrados no interior da Igreja.

Motivo pelo qual o Papa não é um mestre de fé de fora para dentro ou de cima para baixo. Ele faz parte dos discípulos reunidos em torno de Cristo, único Mestre, e faz parte tanto da "Igreja Docente" quanto da  "Igreja Discente".

No exercício de sua atividade pastoral para a Igreja Universal, ele é obrigado a seguir o exemplo do humilde Servo de Deus, Jesus Cristo. Por isso, ele observará escrupulosamente o principio da subsidiariedade.

9 - 0 Papa tem o direito de saber o que se crê na Igreja, com sinceridade de consciência e com a liberdade dos filhos de Deus. Não poderá exercer o seu magistério e ministério da unidade se não existir um amplo espaço de diálogo franco e sincero dentro da Igreja.

É por isso que, certo de poder contar com  consenso dos irmãos Bispos, faço abolir, com efeito imediato, o que, no Código de Direito Canônico (can. 1371, item 1), está prescrito sobre punibilidade do não assentimento em relação aos documentos não infalíveis do Papa.

(Cân. 1371 — Seja punido com justa pena: 1) quem, fora do caso previsto no cân. 1364 § 1, ensinar uma doutrina condenada pelo Romano Pontífice ou pelo Concílio Ecuménico, ou rejeitar com pertinácia a doutrina referida no cân. 750 § 2 ou no cân. 752, e, admoestado pela Sé Apostólica ou pelo Ordinário, não se retrata)

         10  - Além da comum profissão de fé e dos votos ou promessas batismais, não se farão mais, na Igreja Católica, juramentos particulares de fidelidade e lealdade. Basta seguir a palavra firme de Jesus: "Seja o vosso falar: Sim, sim; Não, não. Tudo o que disso passa, procede do maligno" (Mt. 5,37).

Já que vivemos da contínua antecipação de confiança que nos é concedida por Deus, também nós faremos todo o possível para criar uma atmosfera de confiança recíproca. Por este motivo, estão abolidos todos os instrumentos de controle e se criará um clima de confiança uns nos outros.

11 - Todos os problemas polêmicos, como, por exemplo, a função da mulher na Igreja, a participação das mulheres nos processos decisórios de toda a Igreja e uma eventual ordenação das mulheres para o sacerdócio ministerial, serão discutidos no diálogo ecumênico e dentro da Igreja com franqueza, respeito e paciência. E a decisão final terá caráter estritamente colegial.

         12 - A Cristandade inteira, todos os discípulos de Cristo, juntos, são chamados a ser luz do mundo, sacramento de paz, de justiça, de salvação e de cura. Por isso, buscaremos um diálogo respeitoso com todas as religiões não-cristãs, mais ainda, com todos os homens de boa vontade.

Perscrutando os sinais dos tempos, daremos especial atenção ao evangelho da paz e ao caminho da não-violência, a exemplo de Jesus, aproveitando também, com muita alegria, tudo o que a graça de Deus operou, em relação a isto, entre as religiões não-cristãs.

Recomendo a minha pessoa e o meu ministério na Igreja à vossa oração. Da minha parte, eu também recomendo todas e todos à graça de Deus Pai e do Nosso Senhor Jesus Cristo.

Vosso irmão em Cristo,  João XXIV

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* Tradução do italiano: João Tavares - MFPC - MARANHÃO                                             

* Fonte: Jornal Tempi di Fraternità,  ano 22, n° 4, abr 1993, Turim, p.8.

* Ver, também, notícia dessa Carta Pastoral do sonho do Pe. Häring em: https://archiviostorico.corriere.it/1993/marzo/28/sogno_una_Chiesa_senza_gerarchie_co_0_93032815693.shtml

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Lindo XIX Encontro das Famílias dos Padres Casados do Brasil

De 27 de junho a 1º de julho de 2012 aconteceu em Fortaleza – CE o XIX Encontro das Famílias do Padres Casados do Brasil. Segundo a última estatística fornecida, existem no Brasil, aproximadamente, 8.000 (oito mil) padres casados.

No entanto, neste Encontro, se minha contagem não estiver errada, éramos, aproximadamente, 60 (sessenta), sem contar mulheres e crianças. Ressalvo, por oportuno, que aqui, a semelhança com a narração do fato ocorrido em Mt. 14, 21, é pura coincidência. Se lá elas não eram contadas por motivos ditados pela cultura machista da época, aqui, muito pelo contrário, são elas que contam, pois são a razão de ser do que somos: “padres casados”. O trocadilho até que veio a calhar.

 

Onde estavam, ou melhor, onde estão os outros 7.940 (sete mil novecentos e quarenta )? É gente que não acaba mais e dá até para levantar algumas conjecturas:

 

1- Ou a grande maioria dos Padres casados no Brasil não conhece o Movimento (MFPC); 2- Ou conhece, mas por motivos particulares, encontra-se tão desiludida com Igreja, que prefere se manter longe de tudo que lhe lembre religião, clero ou coisa semelhante; 3 – Ou, embora sabendo da existência do Movimento, mas desconhecendo seus objetivos, opta por se manter no anonimato; e 4 – Ou, até conhece, mas não quer mesmo participar de nada.

 

Eu, particularmente, conheço colegas que se encaixam numa ou noutra dessas categorias. Já encontrei quem me dissesse: “me deixa fora disso, não me mande convite para reunião ou encontro, porque não vou”. Paciência! Aí, não se pode fazer nada!

 

Mas, tenho certeza, nossos Encontros, com muitos ou poucos participantes, vão continuar a acontecer, pelo menos até quando a categoria “padre casado” for considerada “exceção” dentro da Igreja. Acho que não podemos deixar de mostrar nossa “carteira de identidade”, afinal de contas, não somos nenhum fora da lei. Nossas esposas só vieram nos completar e nos santificar. Todo mundo sabe os motivos dúbios e escusos que levaram a Igreja a proibir o casamento para padres do rito latino. Motivos estes que não se justificavam na origem e, muito menos, hoje. Seria obra dos falsos misóginos dos primeiro séculos? Tudo leva a crer que não, porque, na clandestinidade, agia-se de modo bem diferente. Ainda hoje o discurso sobre o tema é tão dissonante e contraditório que a gente fica por entender o que se quer com tanta teimosia. Um “casal sacerdotal”, querendo ou não, realiza com muito maior perfeição o plano de Deus, individual e coletivamente. Contudo, até que isso venha a ser aceito por quem dá as cartas, o MFPC vai continuar crescendo. Nossos Encontros, no mínimo, nos possibilitam dizer com o salmista: quam bonum et jucundum habitare fratres in unum” Irmãos que durante anos, décadas até, conviveram, trabalharam e sofreram juntos, se encontrarem depois de tanto tempo, é muito mais que “bom e agradável”, é maravilhoso! São oportunidades, também, para a gente refletir e rezar juntos.

 

Por isso tudo e muito mais, vamos continuar nos encontrando.

 

Curitiba que nos aguarde em 2015!

 

Neste Encontro de Fortaleza registramos, com alegria, a presença de casais Chilenos, Mexicanos e Argentinos. Pelo que se pode perceber, nesses países, os problemas enfrentados pelos padres que se casaram, são mais ou menos os mesmos que enfrentamos no Brasil.

 

O grupo de Fortaleza preparou e realizou um Encontro maravilhoso. O local, SESC de Iparana no Município de Caucaia, foi , na linguagem cearense, um “só o mi dibuiado”. Pena aquele marzão ali no fundo ser “breado”, assim, a gente não precisaria ter ido à praia de Cumbuco, embora não muito longe . Mas, assim mesmo valeu e muito, principalmente pela alegria contagiante da guia Rejane, nora do querido e inesquecível Lauro Mota. Usando expressão do “Dicionário Cearense” seria o caso de dizer: o Ciarense é “abortado”, com 578 km. de praias maravilhosas, presente único da mãe natureza. Briguem aí, gente, com seus pulíticos p’ra dar um jeito de despoluir as praias da Capitar. Quando isso acontecer não deixem de avisar p’ra gente.

 

Falando sério, o SESC nos proporcionou um Encontro tranquilo e muito proveitoso: apartamentos excelentes com espaços exclusivos para reuniões e refeições. Parabéns, turma arretada do Ceará! Não deixem esfriar esse “fogão” de entusiasmo, alegria e idealismo que vimos aí. Deus queira que os outros Estados, com o exemplo de vocês, saiam da moita. O Movimento não é favor para ninguém, é nosso, ou melhor, nós somos o Movimento.

 

O conteúdo do Encontro não poderia ter sido mais apropriado: DA IGREJA QUE TEMOS PARA UMA IGREJA Á LUZ DO ESPÍRITO DO CONCÍLIO VATICANO II NA AMÉRICA LATINA.

 

Quem de nós, vivendo, vivenciando e participando, direta ou indiretamente, dos problemas graves e cruciais que atingem as famílias no mundo de hoje, pode estar tranquilo? Há 50 anos o Concílio terminou e, até agora, quase nada foi feito para que o Evangelho fosse pregado ao Povo de Deus numa linguagem moderna e adequada aos tempos de hoje. Que nossas vozes e da teóloga Maria Soave que nos falou no primeiro dia, não clamem no deserto. A voz do Espírito Santo que guia e ilumina a Igreja não pode cair no esquecimento, não pode ir para um “arquivo morto”. Causa-nos espanto a declaração de Dom Demétrio Velentim (página 12 do livro de texto do Encontro), a respeito do Concílio: “está correndo o risco de cair no esquecimento, porque os Bispos que dele participaram já morreram”, o povo ignora ou desconhece os temas discutidos e decididos pelo Concílio, e conclui: para muita gente o Vaticano II é coisa do passado”.

 

Lamentável que um Bispo pense assim. Seria o atestado evidente com firma registrada em cartório, que a Hierarquia continua no mundo da lua, catando “coquinho”, celebrando missa como “sacrifício” a um Deus que, já na Antiga Aliança, disse que odiava sacrifícios e só queria misericórdia. Uma pergunta, parafraseando o festejado cantor padre Zezinho: Quem caminha à frente do Povo de Deus? “O Povo de Deus no deserto andava, mas à sua frente alguém caminhava. O Povo de Deus era rico de nada, só tinha esperança e o pó da estrada”.Se continuar assim, um dia, até a esperança pode acabar.

 

Para finalizar, os casais que estiveram presentes em Fortaleza: 30 do Ceará; 05 de Brasília; 07 do Paraná; 04 de Santa Catarina; 02 do Maranhão; 02 de Pernambuco; 04 de Minas Gerais; 05 da Bahia; 04 de São Paulo; 03 do Rio de Janeiro; e 01 do Amazona voltaram para suas casas, espera-se, levando muita alegria e esperança no coração, igual às do casal de Emaús, porque escutaram, nesses dias, o Senhor lhes falando. A “túnica” já deixamos, mas não abramos mão do “avental”, porque assim, sempre, estava vestido nosso Mestre, até na cruz.

 

Com licença do casal Presidente, José Edson e Maria Lúcia, lançamos aqui um grito de alerta aos milhares de Padres Casados do Brasil inteiro para que saiam do anonimato. A Igreja (Povo de Deus), mesmo cinquenta anos após o término do Concílio Vaticano II, precisa de nós.

 

Belo Horizonte, 15/07/2012

Beatriz e Lino - MFPC - MINAS GERAIS

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Alteração na disciplina do celibato


Tenho uma opinião muito firme sobre o tema da revogação da disciplina do celibato na Igreja. Trata-se de pensar o aspecto mais global desta questão, ou seja, uma visão eclesiológica em que se considera não só o aspecto da teologia do presbiterato, mas que alcance (principalmente) o campo pastoral.
Refiro-me a necessidade de se pensar um novo modo de viver “a” e “na” Igreja. Em uma Igreja como a de hoje, diocesana e paroquialista, de uma apostolicidade feudal, não é possível viver uma outra forma de presbiterato se não a atual. Não se deve considerar que o fim do celibato se encerra numa simples revogação de uma disciplina canônica, até porque o celibato não deve ser extinto, mas colocado como opção para os que desejarem assumir o ministério presbiteral. Considero até mesmo equívoca a expressão “revogação da disciplina do celibato”, e vejo mais apropriado dizer “alteração na disciplina do celibato” para contemplar a facultabilidade acima descrita.
Esta alteração disciplinar não tem outra posição temporal se não a posteriori. Não se deverá primeiro dispor um celibato opcional e um retorno dos padres casados. Antes disso, a eclesiologia necessitará passar por um “up grade” geral, onde se criará as condições para um presbiterato que atenda a uma melhor adequação do Evangelho (e de seus novos anunciadores) ao mundo atual.
A sacramentalidade na Igreja, por exemplo, sofrerá uma profunda mutação, ou pelo menos o modo de conferi-la ao povo, deixando, talvez, o monopólio do padre e passando o exercício de alguns sacramentos para novas figuras ministeriais (diáconos etc).
Outro aspecto será a administração eclesial onde se buscará uma maneira de não se confundir patrimônios (o da Igreja e a do ministro, pois este terá sua prole e naturalmente precisará constituir um patrimônio para seus herdeiros).
Será preciso continuar a pensar sobre a situação comportamental destes neo ministros. Se hoje temos os padres casados procurando um lugar ao sol na Igreja, neste novo cenário teremos os padres divorciados e/ou “de segunda união” a buscarem sua identidade e seu espaço.
O tema é mais complexo do que se imagina. Acredito que esta discussão precisa seguir por este rumo para amadurecer, pois ao menos uma revisão neste campo um dia acontecerá em nossa Igreja. Quando chegar este dia, espero que não estejamos no nível das simples reivindicações do “voltar a celebrar”.
Ednaldo Costa, Padre casado

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CARTA DE BRODOWSKI

De 13 a 17 de Janeiro de 2010, na casa de Retiros D. Luiz Mousinho, na cidade de Brodowski, SP., na Arquidiocese de Ribeirão Preto, reuniram-se cerca de 70 pessoas do Movimento dos Padres Casados e suas Famílias, MPC, para realizarem seu Encontro Nacional bienal.

 

  1. A mulher sustenta a      vida religiosa no catolicismo. Sem ela, a Igreja sucumbe. Mantida na      obediência e no serviço, não tem consciência das suas potencialidades. Por      isso não ocupa nenhum posto de real poder decisório na Igreja.
  2. O sacerdote      direcionado para o celibato, a vida paroquial ou comunitária, tem      dificuldade em compartilhar a vida conjugal. Além disso existe a questão cultural      do machismo. Para ele, inserir-se na vida conjugal, familiar e      profissional, é um desafio. No entanto, essa inserção o torna mais      preparado para entender a problemática comum da maioria das pessoas.
  3. A grande novidade      foi a percepção da necessidade de rejuvenescer o      grupo. Um resultado concreto foi a eleição de um jovem casal para presidir      a Associação Rumos e coordenar o XIX Encontro Nacional em julho de 2012 em      Fortaleza, Ceará.
  4. Reafirmamos mais uma      vez nosso compromisso com a linha de pensamento do Concílio Vaticano II, com      o Ecumenismo, o diálogo inter-religioso e a compreensão social da fé.
  5. Por fim, os      Participantes do XVIII Encontro Nacional, sensibilizados com o destino de seus      Associados, no que se refere ao objetivo original da ajuda mútua,      estabeleceram a formação de Comissões para o acolhimento de viúvas(os) e a      viabilidade da contratação de um Plano de Saúde.

 

 (Carta elaborada por: Eduardo Hoornaert, Sofia Tavares, Tereza Groetelaars e Fernando Spagnolo e aprovada por toda a Assembléia)

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“Da Igreja que temos para uma Igreja à luz do Concílio Vaticano II na América Latina” - “... ET UNAM CATHOLICAM ECLESIAM ...”

 

             Todos nós rezamos ou cantamos em cada celebração da Páscoa de Jesus: “Creio na Igreja una, ..., católica, ...”.

            Como podemos entender esta afirmação do símbolo da nossa fé, que herdamos dos concílios ecumênicos de Nicéia e Constantinopla: “igreja una”?

            Como entender a Igreja que se faz presente num mundo no qual há tanta diversidade na experiência religiosa dentro das grandes religiões?

            Vejamos como a nossa Igreja Católica é eclética, diversa, de tal forma que a pretensa “unidade” fica ofuscada. O catolicismo não é mais um bloco monolítico, pois há muita fragmentação, diversificação (1).

 

  1. , caracterizado pela devoção aos santos, pela identificação mais morto, do que com o ressuscitado, e marcado por uma visão muitas vezes fatalista da realidade. Na América Latina, este catolicismo sobreviveu durante muitos séculos sem a presença institucional, principalmente do clero.Catolicismo popularcom Jesus
  2. Catolicismo comprometido, caracterizado por uma ação evangelizadora e pastoral com e na perspectiva dos empobrecidos, oprimidos e excluídos, sublinhando a dimensão social e política dos cristãos frente às injustiças na sociedade (Concílio Vaticano II, Medellín e Puebla). As suas expressões mais fortes encontram-se nas Comunidades Eclesiais de Base e na Teologia da Libertação.
  3. Catolicismo reacionário, caracterizado pela preocupação com a Igreja como instituição e a ortodoxia (fidelidade à tradição e às decisões do Magistério). Combate os que dão destaque à dimensão sociopolítica da fé.
  4. Catolicismo universalista, caracterizado por fazer-se presente através de movimentos internacionais (p.ex. Opus Dei), e revestir-se das mesmas características do catolicismo reacionário. Preocupa-se com a identidade católica, por ter medo de perdê-la num mundo tão pluralista. Os seus adeptos valorizam muito a instituição clericalizada. É um tanto triunfalista.
  5. Catolicismo pentecostal, caracterizado por forte emocionalismo, tornando-se uma espécie de religião do coração (p.ex. a R.C.C.), e por uma espiritualidade intimista e desencarnada. É fortemente influenciada por grupos evangélicos pentecostais. Sente-se bem no catolicismo reacionário e universalista.
  6. Catolicismo emancipado, caracterizado por estar aberto a profundas inovações e renovações internas (estruturas) da Igreja, querendo aprender também de outras igrejas cristãs e outras religiões. Vive uma espécie de ‘cisma branco’, porém sem ruptura jurídica. Quer mais autonomia para as igrejas locais e uma maior valorização das conferências episcopais nacionais (como, p.ex., a CNBB). Crê-se em Jesus Cristo e sua Igreja, mas não em tudo dessa Igreja.
  7. Catolicismo descomprometido, caracterizado por uma fé que faz parte da tradição em termos de herança familiar e que se expressa em obrigações formais e sacramentalização ocasional. É uma religião desvinculada da vida e privatizada, sem implicações éticas nem no plano individual, nem no social.

Se olharmos ao nosso redor, observamos a presença destes estilos diferentes da Igreja ser.

Para nossa reflexão:

- Para ser a Igreja do futuro, que passos ela hoje devia dar, que tarefas ou desafios a esperam?

            - Estas maneiras diferenciadas funcionam de forma complementar ou expressam contradições, até talvez insuperáveis, por apresentarem diferenças profundas, tanto na sua interpretação bíblica, reflexão teológica, espiritualidade e prática eclesial?

            - Como MPC, nos identificamos com uma ou mais destas maneiras de catolicismo, e o que podemos significar no meio disso tudo?

 

Comissão Temática do MFC – Ceará

(1) Cf. BRIGHENTI, Agenor, A Igreja do futuro e o futuro da Igreja. Perspectivas para a evangelização na aurora do terceiro milênio. São Paulo, Paulus, 3.ª edição, 2004

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O bode expiatório

Nesta semana estamos celebrando no Brasil um importante rito de expiação. Segundo a tradição, um bode expiatório (de nome José Genoíno) está sendo sacrificado no altar da honorabilidade nacional.Logo depois, ele será precipitado do alto do terraço do templo, rio abaixo. Aí vamos todos entoar louvores a Deus e respirar aliviados, pois estamos de novo purificados e regenerados.

A grande mídia (Globo, Veja, Isto é, etc.) terá a incumbência de celebrar o momento proclamando que doravante ‘o Brasil mudou’. Os pecados do PMDB, PSDB, etc. e todos os malfeitos do passado desaparecem no momento em que a vítima (que significativamente é do PT) é precipitada para baixo. O sumo sacerdote Joaquim Barbosa vai remover penosamente o pesado reposteiro que separa o santo dos santos de nosso pobre mundo pecaminoso e vai oferecer a Deus o cálice com o sangue do cordeiro imolado.

Contudo, essa celebração deixará um gosto amargo para quem não consegue esquecer três coisas que nos incomodam a mente nestes dias. Em primeiro lugar, ritos expiatórios não são novidade na história humana. Os documentos que nos restam da primeira história da humanidade, dos tempos dos caldeus, assírios, babilônicos, egípcios, gregos e romanos, atestam invariavelmente celebrações solenes de ritos em que uma vítima é sacrificada para livrar a comunidade toda da ira de Deus.

Esses documentos estão à disposição de todos, seja em forma de tabuletas de cera, em tiras de papiro ou ainda em ruínas de monumentos antigos que qualquer turista pode encontrar em países como o Iraque, a Turquia ou o Egito. Os ritos expiatórios pressupõem que Deus seja tão vingativo como nós. O que causa estranheza é que eles continuam inalterados, mesmo após a chegada do cristianismo, a revolução francesa e a instalação das democracias modernas. Nesta semana, o ritual chega ao supremo tribunal federal em Brasília

Um segundo ponto. No novo testamento existe uma carta, escrita por volta do ano 65 (35 anos depois da morte de Jesus), que se chama ‘Carta aos Hebreus’. Trata-se de um texto indignado contra a ideia de que Jesus teria sido ‘o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo’. O autor argumenta que essa ideia é totalmente contrária ao que dizem os profetas e, mais ainda, ao que vivenciou o próprio Jesus, que não tinha a intenção de se ‘sacrificar’ e ‘salvar a humanidade da ira de Deus’, mas lutou ferrenhamente pela justiça em sua terra natal e por isso se chocou com as autoridades, sendo cruelmente torturado e assassinado.

Mas, de novo, o estranho acontece. Embora não exista nada mais distante de Jesus que a ideia de um Deus vingativo (ele proclamou sempre que Deus é amor), a ideia de ‘Jesus cordeiro’ prevalece até hoje na mente de muitos cristãos que confundem eucaristia (banquete de fraternidade) e ‘santo sacrifício da missa’. Uma confusão que só pode ser superada por uma leitura inteligente, atenta, autônoma e livre do novo testamento.

Uma terceira observação: o rito ‘justiceiro’ desta semana mostra que não podemos dizer que vivemos numa sociedade cristã, mesmo vendo o grande crucifixo pendurado no tribunal supremo, acima da cadeira do presidente Aires Brito (por quem cultivo o maior respeito). Pois esse crucifixo, para quem toma a sério as coisas e não brinca levianamente com símbolos, nos remete ao oitavo capítulo do evangelho de João. Conhecemos a história: letrados e fariseus trazem diante de Jesus uma mulher casada, surpreendida com outro homem, e eles argumentam que, diante da lei, essa mulher deve ser apedrejada. Aí Jesus responde: ‘quem não tiver pecado atire a primeira pedra’.

Eduardo Hoornaert - MFPC - BAHIA

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Democracia?

No momento em que escrevo, último dia do mês de agosto, as máquinas de produzir prefeitos e vereadores pelo Brasil afora, estão funcionando a todo vapor.

Vejo propagandas eleitorais sempre mais ‘terceirizadas’ e industrialmente produzidas. A tendência vai se acentuando com o correr dos anos. Penso que chegará o tempo em que o candidato não precisará mais nem sair de casa nem mesmo abrir a boca. Bastará fazer aparecer sua imagem, devidamente retocada, em todas as esquinas da cidade, repetir até a exaustão sua música e fazer com que o número de seu partido entre na mente de um número máximo de pessoas. Então o candidato em questão não terá mais nada a fazer a não ser pagar o preço que a empresa de propaganda lhe cobra.

Isso mostra que o problema da democracia é mais complicado do que se costuma pensar. Pode-se perguntar se as pessoas desejam realmente a democracia, se elas são efetivamente ‘democráticas’ e sintonizam com os políticos que afirmam, desde o século XVIII, que a democracia é o melhor sistema de governo. Inúmeros indícios na vida de cada dia mostram que a democracia não parece constituir uma referência para a grande maioria das pessoas.

A impressão é que as pessoas não se sentem mal em ser manipuladas por grupos pequenos, formados por pessoas ricas ou poderosas. Hoje os manipuladores da opinião pública se sentem tão à vontade que não temem mais em mostrar suas caras. Os super-ricos e super-poderosos aparecem nas revistas, nos jornais, na TV e nos grandes eventos. A impressão geral é que as pessoas gostam dessas exibições, ou seja, gostam de serem enganadas. Aparecem imagens sempre mais fantásticas de formas de poder autoritário e essas imagens se repetem de mil maneiras na TV, nos livros, nos mega-eventos religiosos e nas igrejas em geral.

Cada igreja hoje é (mais ou menos) carismática. Basta navegar pela Sky para ver como funciona o mundo de hoje na mente da grande maioria das pessoas: um mundo de fantasias em torno do poder e da manutenção da ordem. Se Machiavelli voltasse hoje, ele ficaria admirado ao ver como sua descrição da realidade política corresponde perfeitamente ao que acontece hoje. Realmente, mais do que nunca, ‘o homem é um ser disponível’. Quem estiver em condições de manipular o ser humano, terá inevitavelmente sucesso, pois o homem estará sempre ‘disponível’ para ser enganado.

No mundo da grande comunicação não aparece de forma nenhuma a vontade de participação ou de democracia. O que aparece é o seguimento dos bem sucedidos, a vontade de imitar e de alcançar uma carreira de sucesso. Essa vontade do seguimento aparece de forma clara nos mega-eventos religiosos, hoje programados por praticamente todas as religiões. Sobressai a figura do papa, que encarna o poder total e pede que se siga cegamente o caminho que ele indica.

Caro leitor, prezada leitora, quer fazer uma pequena pesquisa comigo? Que tal entrarmos, em imaginação, numa livraria? O que nos chama a atenção, logo na entrada, são os grandes best-sellers. Está aí ‘O senhor dos anéis’, de J.R.R. Tolkien, escrito em 1954, que passou recentemente a venda de 200 milhões de exemplares, um monte de livros capaz de encher uma sala de teatro. ‘O código Da Vinci’, de Dan Brown, vendeu 86 milhões em 2010. Vamos para os DVDs.

A primeira edição do filme Matrix (1999) custou 65 milhões de dólares e rendeu 456 milhões. A segunda (Matrix reloaded) custou 127 e faturou 740. Foi o único filme, até agora, que arrecadou 100 milhões de dólares num único fim de semana. Só no Brasil 5 milhões de pessoas foram ver o filme. Isso já basta para que tiremos uma simples conclusão: o grande público gosta de ver e de ler histórias montadas sobre o mesmo esquema autoritário. Por meio de um caldo de imagens, filosofias, referências literárias e culturais aparece sempre a mesma ideia: o poder é conquistado por pessoas que se sacrificam inteiramente e que devem ser seguidas.

Permeia essa produção uma nostalgia não confessada do tempo que tudo estava em ordem, numa sociedade organizada, segundo uma ordem clara e simples, enfim, uma sociedade baseada em obediência. A simplificação, o encanto da imagem e a força do som se juntam para expressar o que a maioria das pessoas é e quer ser: um rebanho de cordeiros que segue o pastor (sempre benevolente e corajoso). A alma generosa e corajosa do pastor domina os ‘cordeiros’ e as ovelhas, seguindo uma lei que parece provir da própria natureza.

As imagens repetidas, em filmes, livros, revistas e programas de TV, acerca da manipulação oculta do mundo que só pode ser combatida por seres excepcionais, fazem com que as pessoas não percebam que elas mesmas estão sendo manipuladas por forças nada ocultas. Por trás dos best-sellers e dos filmes e programas televisionados de enorme sucesso existe a realidade do mundo em que vivemos. É um mundo onde se pratica a cada momento um ataque ao cérebro emocional das pessoas.

Um ditado americano diz com clareza o que está acontecendo no mundo de hoje: ‘enquanto você dorme, eles criam sua realidade’. Quem são eles? Nos Estados Unidos, eles são bem conhecidos e se chamam NBC News; CNN; Fox News Channel; CBS News; ABC News; BBC World News. No Brasil, o nome deles é Globo, a TV Globo (Globo News etc.).

Como é possível ficar sentado durante horas diante da TV e não perceber que a TV Globo tem o Brasil na mão e trabalha dia e noite para nos transformar em cordeirinhos e cordeirinhas, aparentemente inocentes, mas na realidade cruéis e insensíveis, ignorantes do que realmente se passa em nosso redor? Eduardo Hoornaert é padre casado, belga, com mais de 5O anos de Brasil, historiador e teólogo, escritor com mais de 20 livros publicados. Mora em Salvador. Dedica-se agora ao estudo das origens do cristianismo.

Fonte: Enviado por e-mail pelo autor

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ADENDO  I

 

 

ao Manifesto  e     Corolários- clique e veja –

 

 de Romeu Teixeira  Campos

Já faz bastante  tempo, desde os primeiros anos da década de 60 até os dias de hoje, centenas e  centenas  de padres celibatários  promovem processo junto ao Vaticano tempos antes de se casarem. Licenciam-se  através de um documento papal intitulado Rescrito Papal. Neste Rescrito, a  autoridade máxima impõe as condições para que isto ocorra, uma das quais é o  afastamento dos atos próprios de um sacerdote do rito ocidental se se casarem e enquanto casados  estiverem.

 

 Tal mecanismo é  feito para funcionar diante da simples possibilidade de um casamento futuro. Os padres brasileiros casados são  atualmente, ouvi dizer, mais de 6.000. Com suas mulheres e os filhos constituem  o Movimento das Famílias dos Padres Casados, o MFPC. No momento em que  escrevo  o Movimento está no seu XIX  Encontro em Fortaleza, no Ceará. As conferências e os debates e demais  programações estão sendo transmitidas para o mundo todo pela Internet. É só  clicar em www.padrescasadosceará.blogspot.com.br

O povo e os meios de  comunicação até hoje se referem aos padres casados usando uma linguagem que bem  revela uma falta geral de técnica  básica em assuntos teológicos e, por vezes, deboche quando dizem “deixar a saia” para significa deixar a  batina,  dependurar a batina, termos sabidamente inadequados. O mesmo acontece com “deixar a Igreja”, “sair para casar” deixar o sacerdócio”, “ deixar o ministério”, “dar baixa de  padre”, todas expressões muito recorrentes também nos nossos “formadores de  opinião” que vão desde o onisciente Jô Soares até os mais novatos repórteres ou  editores de publicidade dos canais televisivos.

Entrevistas e  reportagens dos diversos canais, com uma abordagem que não consegue ultrapassar  o nível folclórico sem aprofundamento sério da essência do assunto, não têm  ajudado o Movimento desses padres. Perguntam o que supostamente já se sabe de  maneira nada respeitosa às vezes. Parece que todos concordam num ponto: o  poder sagrado lhes foi tirado  quando “tiraram a batina”. Sem a batina, também o poder que estava nela foi  embora. Foram embora a cultura e as competências também. Já não podem nem sabem  mais nada. 

Sobre essas questões  é bom saber um pouco mais. Batina ficou sendo a veste talar que os eclesiásticos  mantiveram quando das invasões dos bárbaros no início da Idade Média. As vestes  dos bárbaros eram curtas e eles  acabaram impondo em toda a Europa seu próprio costume de vestir. Mas o pessoal do clero, de marca mais  conservadora, reagiu e conservou a  veste talar dos nobres romanos e que ia até o calcanhar.

Acabaram ficando  sozinhos e, com o tempo, impopulares e estranhos a ponto de terem os  eclesiásticos de desenvolver mecanismos de justificação entre os quais o de ser  a veste clerical um símbolo do sagrado. Deu certo e a veste talar ( que vai até o  calcanhar) passou a ser distinção e sinal de consagração  daquela pessoa. Era sinal de dignidade e sacralidade  haurida dos atos solenes e litúrgicos,  e  com o tempo, indispensáveis a  esses atos, adquirindo por fim uma  identificação própria das pessoas alfabetizadas da época e cultas.

A batina passou a  ser sinal de cultura, de sacralidade e de alta distinção. E tudo isso ficou  sendo ligado ao poder.

Muitos padres  casados atuais saíram do sistema religioso católico por divergências de doutrina  ou por divergência de atitude diante do problema da liberdade ou da falta dela.  Não pensavam em se casar. Naturalmente abraçaram o matrimônio depois. Post hoc  non propter hoc (depois disso, não por causa disso), como diziam os  escolásticos). Pensar a mesma coisa indistintamente de todos não faz muita  justiça a nenhum.

Que para  um ou outro tenha sido a possibilidade  de se casar o móvel principal e até  único pode ser verdade. Cada caso é um caso. Generalizar é  errado.

Para deixar de  ser  sócio, sair de uma associação,  deixar uma instituição é simples.Basta manifestar a intenção de estar se  afastando e assinar a demissão depois de quitar os devidos pagamentos.  Ontologicamente nada aconteceu, nem de mais nem de menos.

Sair da Igreja já é  bem diferente e também deixar o ministério é bem diferente. Ser dela ou estar  nela depende de algo que acontece ontologicamente, isto é, pelo batismo, assim  crê o cristão. Sair dela, uma vez batizado, parece impossível. Seria necessário  haver um ato pessoal e bem notório que contivesse uma declaração forte de  rejeição dos princípios que comandam a instituição. Alguém pode também declarar  solenemente que não mais pratica determinada religião nem com isso mais se  importa.

Não sei de padre  casado nenhum que tenha feito isto.  Ninguém deixou a Igreja. Quase todo o padre casado continua freqüentando a  matriz, a capela ou o lugar de culto da comunidade  e recebendo os sacramentos e os demais  atos praticados numa paróquia.

É contra a verdade e  a realidade repetir que “deixaram a Igreja” só porque não vistos mais a celebrar  missas, a atenderem confissões, etc.

Não fazem mais isto  porque foram forçados a se absterem de tais atos por força do Rescrito Papal pois este autorizou o seu casamento com essa  condição.

Também na época da  Ditadura Militar, todos tinham que amar o Brasil ou deixá-lo. Quem mandava era a  TINA, a saber, THERE IS NO ALTERNATIVE.: Ame-o  ou deixe-o. Mas sabemos de muitos  brasileiros que tiveram que se exilar  e viver no exterior. Depois voltaram e hoje são brasileiros no pleno uso  de seus direitos. E ninguém duvida que eles amam o Brasil e sempre o amaram.  Aquela situação pertence inteiramente ao passado. Para os padres casados, a  Igreja, até hoje nunca pensou em anistia.

Não obstante, o que  acontece com esses padres é justamente o contrário, passam a ser seguidores com  muito mais convicção e liberdade do projeto do Reino, pregado e proposto por  Jesus Cristo e se tornam agentes de mudança e começam a evangelizar de verdade  nas circunstâncias reais das pessoas comuns no mundo. Começam a acreditar que um Mundo Melhor é  possível e que uma Igreja Melhor também é e trabalham para isso. Tal atitude é  tanto mais meritória quanto mais são desassistidos da grande estrutura e da  cúpula da Igreja que os vitimam, os ignoram e não raras vezes os perseguem.

Nisto, pouco difere  essa cúpula  do que andam dizendo  sobre a Maçonaria que também não tolera desistência ou não tolerava, antigamente.  O pior é que na sua grande maioria também aqueles que um dia participaram da  mesma cultura, da mesma mesa e dos mesmos princípios ignoram seus colegas padres  que um dia se casaram e optaram por outro caminho, o que, por si só, serve de  contratestemunho e mostra que o amor, a caridade e a amizades não costumam ser  praticados  internamente, nos  seminários, nos conventos e mosteiros como seria de se esperar.

Muitos desses padres  casados e suas respectivas famílias  tornam-se depois profundamente cristãos e profundamente solidários com todo o  tipo de combate à exclusão social  desenvolvendo os melhores projetos sociais nos quais se engajam. 

Finalmente, já que  assumimos dizer tudo sobre tal assunto, é bom considerar que estudos atuais da  teologia apontam para a ilicitude e invalidade de pleno direito de tais mandamentos da autoridade máxima  quando, mediante o chamado Rescrito Papal, impõem uma série de proibições  referentes ao ministério sacerdotal: não podem celebrar batizados, casamentos,  celebrar missas, ouvirem confissões, distribuírem comunhões, ministrar a unção  dos enfermos, enfim, não podem exercer as tarefas sacramentais próprias de um  padre, nem mesmo pregar.

Somos tentados a  pensar que o Rescrito Papal fecha os ouvidos ao que foi encaminhado  explicitamente pelo Divino Mestre conforme lemos em Mt 28,18: “Todo poder foi me dado no céu e sobre a  terra. Ide, portanto, e fazei que todas as nações (todas as pessoas) se tornem discípulas, batizando-as em nome  do Pai,do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos  ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos  séculos”. 

Isto, incredibile auditu, até que o Rescrito Papal abolisse e desse ordem em  contrário: “se casarem, não podem fazer isso, nem isso, nem aquilo....” Por quê? Seria, talvez, porque o sexo  praticado pelos casados é algo sujo, imundo, pecaminoso, contrário ao Reino  pregado pelo Mestre?

Houve, lá pelo  século 2º muita gente que pensava assim. Havia uma seita chamada de encratismo.  Os encratistas eram pessoas que pregavam o rigor e o domínio sobre si,  professando a abstinência de carne e vinho e condenando a união sexual e o  casamento. Chamados também de severianos, do nome de um tal Severus, aceitavam a  Lei, os Profetas, os Evangelhos, mas rejeitavam os Atos dos Apóstolos.

Quem quiser saber  mais sobre essa gente leia “Prazer e sofrimento na história do Cristianismo” de  Eduardo Hoornaert em  Rumos:revista  de cultura.v.2-(n.1)1991. Para encurtar a longa história dos encratistas basta  dizer que num Edito do Imperador Teodósio, em 382, foi declarada a sentença de  morte para todos os que tomassem o nome de encratistas e aquarianos, e ordenou  que Florus, o magister officiorum, realizasse extensivas buscas desses  heréticos, considerados maniqueístas disfarçados.

Diz Eduardo  Hoornaert: “A introdução do princípio ascético, através do encratismo e outras  correntes, sempre foi carregada de ambigüidades, pois as fontes referenciais  desse princípio não eram o evangelho ou a tradição bíblica, mas sim o  estoicismo, o neoplatonismo, o pitagorismo e, mais tarde, o  maniqueísmo.

Os resquícios dessas  tendências  não cristãs e não de  acordo com o Evangelho são, com certeza, ainda influentes aqui e ali na mente  semi-herética de muitos eclesiásticos e comandam, ainda hoje, as injunções do  Rescrito Papal impostas aos padres ao se casarem.

Conclusão a tirar: o  sacramento do Matrimônio é um sacramento menor, sujo e contaminador, pois o sexo  não é coisa santa e de Deus. A constituição da família é apenas tolerável e  faz  parte das coisas perversas e  pecaminosas. É este o pensamento que é passado pelas autoridades máximas da  Igreja atual e tal pensamento ainda está preso nas tendências pagãs do  estoicismo, do neoplatonismo, do pitagorismo e do maniqueísmo, do encratismo  enfim.

Assim, aqueles padres casados que já se  convenceram desses dados, podem por conta própria, assumir a prática dos atos  próprios de sacerdote, quando houver a necessidade manifestada por alguma  comunidade de fiéis, grande ou pequena.  Possibilidade nesse sentido é abonada pelo cânon 1752 do atual Código de  Direito Canônico. À medida que os “leigos” resolverem deixar de ser simplesmente  passivos e se tornarem ativos podem detonar uma renovação e uma revitalização da  Igreja de Deus e do Reino pondo fim a mais de mil e setecentos anos ( contando  desde o século IV , na era do Imperador Constantino).

Rebelião?  Desobediência?  Rebelião contra quê?  Desobediência a quem?  Pedro e João  estiveram em circunstâncias difíceis diante da hierarquia judaica. Como se  saíram? Havia ou não havia alternativa? Lendo os Atos dos Apóstolos (Atos  4,1-20 veremos que havia alternativa.  .Vale a pena ler com muita atenção e guardar a lição. “Pois não podemos, nós,  deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”

Não à TINA   e sim à TIA.  Não à There Is No Alternative e sim à  There Is Alternative. A alternativa da obediência a Deus. Esta é a alternativa  evangélica.

Fonte: enviada pelo autor, via e-mail: rmcmps@gmail.com

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Encontro dos padres casados

 

A expressão ex-padre não se justifica, porque o padre não deixa de ser padre. Ele apenas deixa de exercer o ministério.

Entre os dias 27 de junho e 1º de julho próximo será realizado no Sesc Iparana, em Caucaia, no Ceará, o XIX Encontro Nacional do Movimento das Famílias dos Padres Casados (MFPC). Antes de explicitarmos melhor sobre este importante acontecimento eclesial, gostaríamos de fazer alguns esclarecimentos de curiosidade popular.

Padre pode se casar? Na verdade, a Igreja católica tem duas normas a esse respeito. Uma é para os padres da Igreja católica oriental, onde estes podem se casar e exercer suas funções normais como párocos, por exemplo. O limite é que estes padres não podem ser bispos. É privilégio dos padres celibatários. Já na Igreja Católica ocidental (Europa, Américas), os padres que desejarem se casar pedem uma dispensa ao Vaticano para se afastarem do ministério sacerdotal, ou seja, de suas funções de padre, não do sacerdócio em si. Ao receberem essa dispensa, podem se casar, sim.

Se assim é, a expressão ex-padre não se justifica, porque o padre não deixa de ser padre (“Tu és sacerdote eternamente, segundo as ordens de Melquisedec”). Ele apenas deixa de exercer o ministério. É tanto que, se alguns padres casados ficarem viúvos e desejarem retornar ao ministério, a Santa Sé os acolhe, em sintonia com o bispo, sem que precisem ser ordenados novamente. É bom esclarecer que essa dispensa do ministério, tanto o padre pode pedir quanto o Vaticano pode dar a qualquer padre que não seguir suas normas, por solicitação do bispo. No Ceará temos o famoso caso do Padre Cícero Romão Batista, de Juazeiro do Norte, que morreu suspenso de ordem por determinação da Igreja. Por isso, atualmente, a Diocese do Crato está pedindo ao Vaticano a sua reintegração na Igreja.

O fato é que muitos padres têm solicitado a dispensa do ministério para se casarem e a Igreja, na sua compreensão e postura materna, tem concedido. Então, estes realizam o sacramento do matrimônio com a amada escolhida.

Como é a vida do padre casado? Vida de um cidadão como tantos outros na sociedade, com as diversidades naturais à vida humana. Alguns, inclusive, continuam amando a Igreja, com um bom relacionamento com a hierarquia, realizando atividades pastorais e até administrativas (isso tem acontecido na Arquidiocese de Fortaleza, por exemplo). Outros, ainda, se mantêm ligados à Igreja, mas numa postura crítica, seja com relação ao celibato, seja no que diz respeito a outras normas disciplinares e posturas teológicas. Já outros, por razões diversas, inclusive por sofrimentos e rejeições por parte da hierarquia, se afastam de tudo o que diz respeito à igreja.

O Movimento das Famílias dos Padres Casados (MFPC) está aberto a todos, num processo de irmandade e solidariedade. Os interessados podem ler via internet ou assinar o Jornal Rumos, que expressa o pensamento do MFPC.

São milhares de padres casados no mundo. Muitos destes, há anos, passaram a se articular para uma reflexão sobre a sua realidade de padres casados: homens de fé, pais de família, educação dos filhos, profissão, trabalho, convivência com as esposas, membros da sociedade e se questionarem sobre seu lugar no mundo como padres casados, assim como sua relação com a hierarquia.

No Brasil passaram a se articular nos estados. No Ceará, tivemos muito forte o profético trabalho do querido e inesquecível Lauro Mota. Criou inclusive um jornal, O Sinal. Hoje sua esposa e seus filhos continuam integrados entusiasticamente no MFPC.

Então, é com esse espírito social, eclesial e profético, diria, que vai acontecer o XIX Encontro Nacional do Movimento das Famílias dos Padres Casados. Virão padres casados e suas famílias de vários lugares do Brasil. Será um momento de irmandade, fraternidade, festas (juninas inclusive), passeios e, evidentemente, reflexões. Estão inscritos alguns padres casados do Exterior (Argentina, México e outros países).

O grupo do Ceará, que se reúne mensalmente, prepara-se há mais de dois anos para acolher, coordenar e organizar esse encontro, com toda sua logística e temática. Refletiremos, em sintonia com a Igreja no mundo e numa postura profética, nos perguntando sobre o lugar da igreja no mundo, quando celebramos, em 2012, os 50 anos da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II. Daí, a temática do encontro será: “Da Igreja que temos para uma igreja à luz do Vaticano II na América Latina”.

Para isso convidamos três excelentes assessores : Maria Soave (biblista), Padre Manfredo Oliveira (filósofo) e Carlos Tursi (teólogo). Estamos esperançosos e confiantes de que este encontro proporcionará reflexões e maiores articulações que fortaleçam a missão do MFPC na Igreja e no mundo. O XIX Encontro Nacional do Movimento das Famílias dos Padres Casados terminará com a eleição da nova Coordenação Nacional para o próximo biênio.

Jornal O POVO.

Jornal de Hoje Espiritualidade/artigo 24/06/2012

Luciano Sampaio é psicanalista e membro da Coordenação do Movimento das Famílias dos Padres Casados (MFPC) do Ceará

 

Dr. Luciano Furtado Sampaio
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