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EX-PADRE OU PADRE CASADO? EIS A QUESTÃO
EX-PADRE OU PADRE CASADO? EIS A QUESTÃO

Ao ler o  último número do Jornal Rumos¹, deparei-me com o artigo do Pe. Zezinho, SCJ,  sobre a questão dos ex- padres, ex-religiosos e ex-religiosas, que um dia resolveram deixar o ministério, a vida religiosa ou monástica e optaram por outros caminhos.
 
Não escondo o fato que o  artigo me emocionou, por isso também decidi trazer este assunto para o blog Indagações. Qual é a diferença entre  o termo “ex-padre” e “padre casado”?  Por que, muitas vezes, esse assunto incomoda?
 
Para muita gente (não só entre os católicos), o padre que deixou o ministério e  não celebra mais a  Missa, é um ex!  Ex-padre - quer dizer: “já  foi padre”. Para outros tantos – mesmo quando um padre sai  “para casar”, continua sendo padre e eles continuam tratando-o como tal.  Uma outra parcela dos católicos demonstra incerteza em relação a essa questão. Não sabe opinar.
 
Para a Igreja Católica, sobretudo para a hierarquia, a questão dos padres  que “saíram” sempre foi, e hoje ainda é, uma questão bastante incômoda e até constrangedora, da qual seria melhor não falar, se isso fosse possível...
 
Para muitos de nós, que deixamos de atuar como sacerdotes e exercer o ministério (uso “nós”, porque eu também sou um deles), essa questão de sermos “excluídos” ou chamados de “Ex-padres” tem um sabor de injustiça, incompreensão e marca a nossa vida. Tenho certeza que a mesma coisa ocorre também com a maioria das minhas irmãs e irmãos,  freiras e frades, que um dia deixaram a vida no convento. 
 
“Saímos” do ministério, devido, na maioria dos casos,  a dois fatores:  um é a  decisão pessoal de cada um de nós de  optar pelo casamento e pela família, e outro – o afastamento automático que sofremos  da parte da Igreja, que aplica aqui a lei de exclusão (ou sacerdócio ou matrimônio)².  Esta é a causa principal e procedimento formal da Igreja Católica como Instituição, nos casos como nossos. 
 
À parte a dramaticidade da situação de “começar de novo”, fica a marca triste e negativa, que é a falta de caridade da parte da Instituição e da parte de outros colegas que “continuam”, salvas algumas exceções.  A maioria - e esta  é triste realidade – faz questão de não querer saber da situação deles;  talvez, para não se sentirem obrigados a ajudá-los ... ?
 
A verdade é, que, para a  maioria de nós, sem dúvida, apesar de sofrermos o isolamento e a marginalização ostensiva da  parte da Igreja Instituição (temos menos “direitos” dentro da Igreja do que os  leigos), continuamos vivendo firmes na Fé, sem  nos afastarmos da Igreja de Jesus Cristo. Continuo convicto que o nosso chamado, a nossa vocação e o sacramento da Ordem Sacerdotal continuam válidos e continuam os mesmos na sua forma, porém impedidos e  paralisados, por  tempo indeterminado, pela lei humana.
 
O importante é que nós nos sentimos amados e  amparados por Deus neste  caminho da vida de cada um de nós, que não poucas vezes, mostra-se muito difícil no sentido de garantir a  sobrevivência.
 
Não gosto da expressão “ex-padre”, porque não diz a verdade. Nós nos costumamos a chamar de padres casados ou de irmãos, e muitas pessoas, hoje em dia, também assim nos chamam.
 
Esse artigo do Pe. Zezinho, citado acima, que na verdade é um depoimento amigo e fraterno de um irmão nosso, que segue no ministério e continua realizando com firmeza - durante todos esses anos de sua carreira – um trabalho de evangelização verdadeiro e excepcional,  transmite-nos  solidariedade e sabedoria. Não pude não trazê-lo para este espaço.
Não deixe de  ler.
 
 
 
 
EX-PADRES E EX-FREIRAS
 
Nós que prosseguimos, devemos a eles o respeito de irmãos e irmãs. Caminharam conosco por anos, sonhando os mesmos sonhos e sofrendo as mesmas dores do reino, até que para eles e elas ficou difícil continuar a servir a Deus dessa maneira. Não deu mais. Alguns podem ter perdido a fé e a perspectiva, mas a maioria continuou amando a Jesus e à Igreja e servindo o Senhor. Não perderam a vocação. Só não foi mais possível servir e amar num convento, no celibato ou no ministério. Para eles ficou difícil demais prosseguir naquele caminho de vida. Para não servirem a Deus infelizes e desajustados procuraram seu ajuste noutro caminho. Há quem os diminua por isso. Há quem fale em perda, fuga, infidelidade e fracasso; o que é injusto, porque há fracassados que continuam, mas servindo sem amor e há muitos deles que se tornaram pessoas melhores depois da mudança de vida. Cada caso é um caso!
 
Nós que ficamos nos conventos, nas paróquias, nas pastorais e achamos que podemos ir até o fim, temos  mais é que respeitá-los. Por um tempo conseguiram, cheios de zelo e amor ajudar  o povo de Deus como padres, freiras e irmãos. Foi vocação. Sentiram-se chamados. Houve um momento em que, ou não foi mais possível responder daquele jeito ou sentiram-se chamado a outro caminho. Pediram licença, fizeram tudo nos conformes. Mas, ficar não dava mais. Em nenhum momento quiseram desafiar a Igreja, mas o coração pedia um lar, um amor ou um outro caminho de serviço. Falo dos maduros. Sofreram e ainda sofrem bastante com suas opções.
 
Tenho vários amigos e amigas,  maravilhosos em tudo que já exerceram o ministério sacerdotal e já viveram  como religiosas. Aprendi e ainda  aprendo muito com eles. Nunca me achei melhor do que eles só porque continuo. Nem sei se os entendo, porque não passei pelo que eles passaram. Mas de ouvi-los, sei o quanto sofreram e ainda sofrem. Continuam companheiros. Alguns adorariam poder atuar, mas nossa Igreja ainda não tem esta opção. Enquanto isso, prosseguem com saudade, mas sem mágoa, na mesma direção do mesmo reino . Mudaram de veículo, mas não de destino. Nunca os chamo de ex padres ou ex freiras. Chamo-os de irmãos. É o que são.
 
Um dia nossa igreja saberá aproveitar melhor suas capacidades. Enquanto isso não acontece, que sejam vistos como servidores de Deus, lá onde agora estão, alguns mais, outros menos felizes, outros infelizes como antes. Julgá-los, nunca! Essas coisas do coração e da fé não podem ser medidas na base do era e não é mais. A maioria continua viajando na direção do mesmo infinito, amando como antes. Se você nunca viveu perto deles ou delas não terá uma idéia do quanto lhes dói a palavra ex. Não a use. Eles não a merecem.
 
Pe. Zezinho, SCJ
 
 
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¹  Jornal Rumos (Ano 30 /Nº 226 julho/agosto 2012).
 
²  Este critério, hoje em dia, é muito questionado: a punição que cai sobre o sacerdote que opta pelo matrimônio não tem base em delito algum, pois o sacramento do matrimônio não pode ser visto como delito. Será que o padre que casa, possa e deva ser penalizado por isso? Como se sabe, o matrimônio é um sacramento como os demais, não podendo, portanto, ser tratado como se fosse “inferior”,  ou pudesse prejudicar ou invalidar algum ato sagrado.